sábado, 29 de janeiro de 2011

Ainda não vi este, mas é o próximo

Polemicar

Não tenho grande capacidade de polemicar. Fazer polémica será o próximo grande desafio dos meus textos nas cartas do leitor. Até agora tenho optado por focar os aspectos positivos da política. Talvez seja melhor enveredar nos aspectos negativos.

The Social Network

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Inquietude

A Origem é um grande filme. Sem sombra de dúvida que é uma grande ideia. Poder navegar nos sonhos é um excelente primeiro passo. Poder implantar ideias em outrem é genial. Apesar do poder da sugestão não ser assim tão esotérico. É um bom filme, enfim, mas falta qualquer coisa. Já me disseram que é a inquietude. Concordo. O filme não causa a estranheza da grande arte. Saímos satisfeitos do anfiteatro, mas não boquiabertos ou perturbados, não vamos para casa a pensar nas consequências perniciosas da possibilidade de invadirem os nossos sonhos - algo muito íntimo, pessoal e intransmissível. Assistir a esta película é entretenimento, bom entretenimento, mas daqui alguns meses, já ninguém dirá que Inception é o filme da sua vida.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Introdução a Milton Friedman (1)

Sobre economia basta-me Milton Friedman. O homem não é nenhum radical, é sensato. O problema dele são as suas convicções, sólidas e fundamentadas. Defender o mercado não é fácil, apontar o dedo aos burocratas, idem. O exemplo do lápis é paradigmático, para produzir um simples lápis com um preço competitivo, milhares de pessoas, com diferentes culturas, ideias políticas, sensibilidades ou afinidades têm de cooperar. Levar o conceito de mercado a outras áreas: educação, defesa do consumidor, apoios sociais, gera acesas discórdias. Mas obliterar as ideias de Friedman, evitar trazer alguns aspectos dos seus ideais é um erro. Por dois motivos: o desenvolvimento económico é fundamental ao nosso bem-estar; e é preciso criar riqueza para poder distribui-la. E nós não temos sido capazes de crescer e desenvolver. Cada vez mais será difícil a "equidade" se não prosperarmos. Espero que possa expor Friedman de forma adequada e perspicaz.

Não me farto disto

Tenho que agradecer à lei seca.

Wild Strawberries - trailer

sábado, 22 de janeiro de 2011

Sem título

Um humorista já um pouco enfunado pelo dia atarefado, chega ao estúdio para gravar um sketch escrito por ele. Tem na mão uma cópia do guião, a outra já tinha entregue ao produtor. O cenário já estava pronto, era um cenário simples composto por uma mesa e um fundo verde. Era suposto não haver no cenário não ter nenhum título, mas lá estava escrito "Sem título" no topo do fundo verde, com letras pretas e gordas. O humorista olha para aquilo e muito tranquilo diz para retirarem o título:
HUMORISTA:  Por favor, podem tirar este título que aqui está na parte de cima do fundo verde.
Um dos assistentes prepara-se para colocar uma escada de modo a retirar o letreiro, mas é interrompido pelo realizador, que lhe diz para parar.
HUMORISTA: Não, podes continuar a subir as escadas. É mesmo para tirar o letreiro.
REALIZADOR: Não é não. Prefiro que deixe estar o letreiro. - Diz muito calmamente.
HUMORISTA: Caro realizador, não leu o guião? Está aqui a dizer "Sem título", ou seja, este sketch não tem título.
REALIZADOR: E é exactamente isso que está escrito, que o sketch não tem título.
HUMORISTA: Mas "Sem título" - apontando para o letreiro - é um título válido, não é?
REALIZADOR: As pessoas não são parvas. Claro que vão perceber que o sketch não tem título.
HUMORISTA (muito irritado): Já lhe disse para tirar o letreiro, porque fui eu que escrevi este sketch, e não quero que ele tenha um título!
REALIZADOR: Desculpe, mas quem manda na realização sou eu. E eu quero que o cenário permaneça como está.
O humorista atira os papeis para o chão e abandona a o estúdio.

...

Eu devia ter previsto

Tenho uma amiga chamada Rosa, e já deveria ter previsto como são os seus caprichos. Posso dar um exemplo, quando ela me diz para estar as 17h30m na Universidade, eu deveria prever que o que ela estava a querer me dizer era: 19h15m no café Beju-Beju. Posso dar mais exemplos em que não era difícil fazer previsões. Quando Sócrates disse que não haveria aumentos de impostos, nas últimas legislativas, eu deveria ter previsto que haveria aumentos de impostos e cortes salariais, nessa mesma legislatura. Afinal eu já sabia que ele era como a minha amiga Rosa, caprichoso e de artimanhas.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Aquilo não foi amor

Lembro-me de tudo, das brigas, dos joguinhos e rodriguinhos, dos esquemas, das traições. Agora tenho um novo amor, um novo amor. Nunca te amei, julgo eu, apesar de me teres dado a volta a cabeça. Gostava de te dizer na cara isto, só isto, tenho um novo amor. Acho que fiquei preso a ti porque, no fundo, a profusão de emoções fascinava-me. Não acredito que o teu amor fosse verdadeiro amor. Nunca nos amamos verdadeiramente, mexíamos e revolvíamos as emoções um do outro. Foi uma brincadeira que nos entregamos de corpo e alma, mas uma brincadeira. Gosto da pessoa que és, mas aquilo não foi amor.  

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

A Micose no Escroto

Uma mulher com pudor e bom senso critica-me por querer fruição. Sou demasiado leviano e descabido por procurar o prazer. Não concordo. Ter uma vida cinzenta não me torna melhor pessoa, muito pelo contrário. Mas a critica continua e exaspera: há fome, doenças, morte, sofrimento e guerras várias no mundo! Tudo bem, mas imaginemos a seguinte situação. Um tipo tem uma micose no escroto, pode perfeitamente ir a uma farmácia e comprar uma pomada para resolver o assunto. Primeira hipótese. Mas também pode ficar paralisado com a fome, as doenças, a morte, o sofrimento e as vária guerras que há no mundo, no entanto, a micose no escroto continua e as maleitas várias não deixam de assolar o mundo, mesmo que a dor não  pare. Segunda hipótese. Peço perdão pela licenciosidade mas eu iria era comprar a pomada o mais depressa possível. Não quero ser mais um a sofrer.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Conversa de esplanada

Estou na esplanada do costume. Aguardo por um amigo. Tenho um livro na mão, Contos de John Cheever II. Chega o amigo:
AMIGO: Sempre a ler, meu caro.
EU: Tem de ser, tenho que dar utilidade a tua falta de pontualidade.
AMIGO: O que é isso?
EU: John Cheever.
AMIGO: Deixa-me ver.
 Ele pega no livro, folheia-o e lê o posfácio de José Lima. 
AMIGO: Andas a ler um roto?
EU: Roto?!
AMIGO: Sim, estão aqui a dizer que ele é roto.
José Lima fez uma brilhante tradução. O livro é puro deleite literário, mas os posfácios que salientam a polémica que envolveu o escritor, sobre a sua alegada homossexualidade, são deprimentes. Quando leio Cheever até posso sentir a tessitura das emoções contraditórias, mas nunca me apercebi sobre a sua orientação sexual, e se existirem vestígios desta são residuais. Fiquei fascinado pela obsessão do escritor pela Itália e pela família. As personagens femininas são tímidas e correctas mas revelam conhecimento sobre o sexo oposto, e apreço. As descrições são envolventes, e as emoções descritas e evocadas são reveladoras de uma mente arguta mas sensível, mas não devo isso a uma suposta ou efectiva homossexualidade. Enfim, é um bom livro, não deveria ter conotações pífias.

domingo, 16 de janeiro de 2011

Só pensas nisso

Se tivesse que escolher uma frase que deveria ser abolida da sintaxe da Língua Portuguesa esta seria: só pensas nisso. Não será muito difícil perceber o que é isso, mas o que é chocante, é que este isso tem implicações infindáveis, não é só isso que elas querem dizer, é isto e aquilo, e não sei o quê mais. Poderíamos pensar que podemos mudar, e no momento até saem promessas (vagas) da boca, mas não mudamos. Nunca mudamos. Ficamos os mesmos, ou pior. Seria interessante transformar este isso numa outra coisa, em algo que pudéssemos partilhar, viver, com normalidade e sem complexos. Mas há sempre o trabalho, responsabilidades, medos e receios vários, outras pessoas, outros amores, ou há sempre a desculpa de  não encontrarmos um lugar aprazível. Um rol de azafamas várias que impedem a fruição. Eu nem sei o que fazer quando ouço esta frase, e não foi nem a primeira pessoa a me dizer, nem a primeira vez que a ouço. Estou convencido que não sou o único.

O perfeito candidato presidencial (1)

Estou a perder 12 e tal porcento numas acções quaisquer que adquiri há pouco menos do que um ano. Se Cavaco Silva é mau candidato por ter tido mais-valias na bolsa, eu, automaticamente, serei um bom candidato presidencial, exactamente por ter menos-valias. E se não sou um bom candidato, certamente seria um sucesso na Comissão de Honra de Manuel Alegre.

sábado, 15 de janeiro de 2011

O jardim onde te beijei


As pupilas ainda não se acostumaram à ténue luz. O crepúsculo parece eterno e iridescente. Vagueio pelas ruas, sôfrego. Desço uma avenida dedicada a Camões, continuo a deambular. Vejo árvores, é o Jardim Municipal. No anfiteatro ecoa o silêncio. Entro no jardim. Cinco passos. Volto atrás. Não quero estar naquele lugar. Ainda não sei porquê e sigo noutra direcção. A minha memória está impertinente e descabida. Lembro-me dos teus beijos! Lânguidos momentos. Paro. Olho em volta. Ausência. Um ermo avesso. Desço. Volto a subir. Parece que estou perdido, mas não, apenas desejo perder-me, desencontrar-me. Encontro um conhecido. Digo-lhe que estou com pressa. Só me apercebo que menti minutos depois. Encontro uma placa, dourada. Muito devagar leio o que lá está escrito. Os olhos traem-me por vezes. Reminiscência. Tenho oito anos. Estou sentado num banco a ler Sophia de Mello Breyner: Por-que os ou-tros se mas-ca-ram e tu não. «Não me sais da cabeça!». Despertar brusco. Eu não lia Sophia de Mello Breyner aos oito anos. Estou outra vez a mentir, desta vez a mim próprio. Encontro na placa o meu reflexo. «Porque te iludes?», pergunto eu. Continuo a caminhar, como se tivesse a fugir, mas mais parece que só ando as voltas, daquele jardim onde te beijei.
Eras tu que me ligavas quando estava escuro...Lembro-me, lembro-me. Eras tu. Na altura preferia outra pessoa a me ligar. Já não sei como ela se chama. Só me lembro, agora, que eras tu que me ligavas. Já não me ligas mais, não queres saber de mim, magoei-te, magoamos-nos mutuamente, nas intermitências do nosso amor. Já não nos falamos, mas eu lembro-me perfeitamente que me ligavas quando estava escuro.

Privacidade e Facebook

Paulo Pinto Mascarenhas manifesta uma certa estranheza sobre a publicação no DN das mensagens privadas trocadas entre Carlos Castro e Renato Seabra. Também senti o mesmo quando vi a notícia no telejornal. Como é possível este gesto de voyeurismo macabro numa sociedade civilizada? Especialmente tratando-se do denominado jornalismo de referência. A pergunta que se impõe é quem permitiu o acesso a conteúdos privados? Mesmo sabendo que toda a informação colocada no Facebook passa a ser propriedade da empresa liderada por Mark Zuckerberg, deveria haver um certo cuidado em disponibilizar este tipo de informação sensível. Podemos ficar muito entusiasmados com os amigos que fazemos nesta plataforma, da qual, confesso, sou um apreciador. Os últimos álbuns que ouvi foram todos de recomendações de amigos do Facebook, mas os perigos de usufruir deste tipo de benesses pode ser insidioso.

Post Esquizofrénico (1-A)

Caro Anti-António Ferreira
Belo e original nome que foste arranjar, será que tem a ver com Nelson Rodrigues? Será que a tua identidade não vai mais longe do que seres um mero antagonista de minha pessoa? Conheço pessoas como tu, verdadeiros sanguessugas, que não vão lado nenhum, que não têm ideias próprias ou valores próprios. Criticas-me por citar Barthes, e até tens alguma razão quanto as minhas limitações, mas pelo menos eu esforço-me, vou a luta, persigo os meus anseios, sou activo e produtivo. Não vejo essas qualidades em ti, Anti-António Ferreira, ou melhor, em vez do sufixo "anti" podemos fazer uma pequena alteração no teu epíteto, podemos chamar-te: António Ferrete. Muito mais apropriado dado que julgas lançar um labéu sobre a minha pessoa. Algo que nunca conseguirás; sou, claramente, muito superior a ti. 
Melhores Cumprimentos
António Ferreira

Post Esquizofrénico (1)

Sobre a Sociedade frígida: Meu caro António Ferreira, com que então quer mudar a sociedade, apesar de ser modesto (pequenas mudanças incrementais), não deixa de ser um devaneio quer mudar o estado de coisas, e, sinceramente, um pouco banal. Todos querem dar o seu contributo, o seu cunho pessoal à sociedade. Que miséria de ilusão decadente! Depois mencionas Barthes como se o conhecesses. Bem sei que leste o Prazer do Texto, mas será que o percebeste, que o compreendeste, será que ficaste imbuído do espírito desse belo livro? Claro que não! Então porque esse preciosismo todo? Deixa-te de devaneios e ilusões que nada contribuem para o teu bem-estar. 
Atenciosamente,
Teu alter-ego.


Sociedade Frígida

O que será que Barthes quereria dizer com sociedade frígida? A resposta talvez esteja relacionada com o facto de que mais do que nunca vivemos numa sociedade que é estimulada de todas as formas, mas que se mantém imóvel, estática e apática. E estes estímulos vêem de todos os lados, do governo e da oposição, dos cronistas e dos comentadores, dos escritores, dos activistas, do cidadão comum, existe uma profusão de indivíduos e de tribos das mais diversas espécies, cores e feitios que apelam à sociedade, mas esta mantêm-se irresoluta e frígida. Não acredito que possamos curar a frigidez de um dia para o outro, mas podemos dar uma carícia ou outra para ver se, pelo menos, pequenas evoluções incrementais aconteçam.